A transformação digital revolucionou os meios de consumo, isso é inegável. Vemos exemplos disso todos os dias: do supermercado ao e-commerce, do pagamento por aproximação às assistentes virtuais. Mas e a indústria? Por que a digitalização no setor B2B ainda parece estar engatinhando, enquanto o varejo já corre uma maratona digital? O tema não é apenas técnico ou financeiro, mas envolve mentalidade, estratégia e, acima de tudo, a capacidade de adaptação.
No painel da Conferência Rio Grande do Sul 2024, três especialistas compartilharam suas visões sobre os desafios e oportunidades do setor industrial no mundo digital. Cássio Weber (Coopershoes/Converse), Alex Gusmão (Soprano) e Ricardo Magero Angeli (OU) pintaram um panorama claro: ainda há um caminho longo, mas também promissor. Vamos explorar isso mais a fundo.
Por que a indústria ainda está atrás do varejo no digital?
Se pararmos para pensar, o varejo é como uma locomotiva puxando os vagões da transformação digital. Ele se move rápido porque é diretamente impactado pelo comportamento do consumidor, que exige conveniência e agilidade. Já a indústria, que tradicionalmente opera nos bastidores, demora mais para sentir o impacto das mudanças. E isso traz um grande problema: quanto mais ela demora, maior o risco de ficar para trás.
Um ponto central levantado no painel foi a necessidade de diferenciação no meio digital. Para Weber, as indústrias precisam ir além da venda direta e olhar para os dados como um ativo estratégico. Esses dados, se usados com inteligência, podem criar sinergias com o varejo, ajudando os parceiros a vender mais. É quase como dizer: “Não basta saber o que seu cliente quer, você precisa ajudar o cliente do seu cliente.” É uma mudança de paradigma, mas que exige maturidade e visão de longo prazo.
Oportunidades no digital: onde a indústria pode (e deve) brilhar
Alex Gusmão trouxe uma perspectiva otimista ao painel: sim, a indústria pode dar um salto digital. Mas para isso, precisa ajustar sua mentalidade. Ele comparou o momento atual a estar em um cruzamento sem semáforos, onde todos os caminhos são possíveis, mas falta clareza sobre qual seguir. A solução? Investir na interpretação e análise de dados.
Imagine a seguinte cena: um vendedor na ponta da cadeia comercial, enfrentando dúvidas e preocupações do varejista sobre estoques, logística ou tendências de mercado. E a indústria? Bem, ela pode se tornar um aliado essencial, fornecendo respostas rápidas e baseadas em dados. Esse tipo de suporte não apenas fortalece as relações comerciais, mas também posiciona a indústria como uma parceira indispensável na cadeia de valor.
Mas como começar? Gusmão enfatizou a importância de “estar onde os vendedores estão”. Isso significa participar ativamente da jornada do parceiro comercial, entendendo suas dores e criando soluções personalizadas. É quase como um técnico de futebol que acompanha o jogo à beira do campo, em vez de assistir das arquibancadas.
Storytelling e o poder do conteúdo de valor
Ricardo Magero Angeli trouxe à tona um elemento muitas vezes subestimado na indústria: o storytelling. Para ele, a geração de conteúdo relevante não é apenas um diferencial, mas uma necessidade. Pense nisso: estamos em um mundo onde o consumidor (seja ele final ou corporativo) busca conexões autênticas. E nada conecta mais do que uma boa história.
Angeli sugere que a criação de conteúdo deve ser baseada em dados dos usuários. Por exemplo, uma indústria que entende as preocupações de seus parceiros pode criar conteúdos que respondam diretamente a essas dúvidas, seja por meio de blogs, vídeos ou guias práticos. Essa abordagem não apenas educa, mas também constrói confiança.
Um exemplo claro seria uma empresa do setor químico que, ao perceber a dificuldade dos parceiros em lidar com regulamentações ambientais, cria uma série de vídeos explicativos sobre o tema. Isso é storytelling aplicado ao contexto B2B: resolver problemas enquanto conta histórias que fazem sentido.
Integração físico e digital: o omnichannel industrial
Outro ponto que ganhou destaque no painel foi a integração entre canais físicos e digitais. No varejo, essa abordagem já é conhecida como omnichannel. No B2B, ainda é uma ideia que está ganhando tração. Mas o conceito é simples: criar uma experiência consistente, independentemente do ponto de contato.
Por que isso importa? Porque o cliente B2B também é uma pessoa, e pessoas valorizam conveniência. Uma indústria que centraliza seus dados e automatiza processos simples, como pedidos ou suporte técnico, não apenas economiza tempo, mas também melhora a experiência do cliente. E sabemos que uma boa experiência é o primeiro passo para a fidelidade.
Weber resumiu bem: a integração físico-digital não é apenas uma tendência, mas um caminho inevitável. E, para isso, é preciso investir em tecnologia que permita essa transição de forma fluida. Aqui, ferramentas como CRM (Customer Relationship Management) e ERP (Enterprise Resource Planning) desempenham um papel crucial.
Os gargalos da transformação digital
Apesar de todas as oportunidades, os gargalos ainda são significativos. Vamos ser francos: a transformação digital na indústria não é simples nem barata. Além disso, muitos líderes ainda têm uma visão limitada do que significa “digital”. Para alguns, é apenas criar um e-commerce; para outros, é automatizar uma linha de produção. Mas a verdade é que o digital é muito mais abrangente.
Os executivos do painel apontaram dois grandes desafios: resistência à mudança e falta de talentos especializados. O primeiro é cultural. Muitas empresas ainda operam com a mentalidade de que “se está funcionando, não mexa.” Mas, no cenário atual, essa abordagem é um convite ao fracasso.
Já a falta de talentos é um problema global. A tecnologia avança mais rápido do que a capacidade das empresas de formar profissionais qualificados. E isso cria um ciclo perigoso: sem talentos, não há como implementar mudanças significativas; sem mudanças, não há progresso.
Colaboração: a chave para um futuro digital robusto
Um ponto que uniu todos os palestrantes foi a importância da colaboração entre indústria e varejo. Pense nisso como uma dança: quando ambos os parceiros estão em sintonia, o resultado é harmonioso. Mas, se um deles pisa no pé do outro, a experiência é frustrante.
Weber destacou que a colaboração não significa necessariamente entrar em marketplaces ou depender exclusivamente de terceiros. Em vez disso, trata-se de construir relações mais próximas e mutuamente benéficas. Gusmão complementou, afirmando que a presença digital deve ser vista como uma extensão das parcerias físicas, e não como uma substituição.
Essa colaboração também se estende ao uso de dados. Quando a indústria compartilha insights valiosos com o varejo, ambos se beneficiam. É uma relação de ganha-ganha que, além de fortalecer a cadeia de valor, cria uma base mais sólida para enfrentar as demandas do consumidor moderno.
Conclusão: o que vem a seguir?
A transformação digital na indústria não é uma corrida de 100 metros; é uma maratona. Exige preparo, estratégia e, acima de tudo, paciência. Os gargalos são reais, mas as oportunidades são ainda maiores. Com a mentalidade certa, investimento em tecnologia e foco na colaboração, a indústria pode não apenas alcançar o varejo, mas também definir novos padrões de inovação.
Então, a pergunta que fica é: sua empresa está pronta para dar o próximo passo? Porque o futuro não espera, e a digitalização não é mais uma opção — é uma necessidade.Fonte: https://www.ecommercebrasil.com.br/noticias/industria-busca-por-digitalizacao-o-que-falta